Batimento Cardíaco

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Questions#

E o que me fazes sentir? E o que me fazes desejar? E o que me fazes sorrir? E o que me fazes cantar? E o que me fazes imaginar? E o bem que me sabes? E o bem que te quero? E a vontade que tenho de te ouvir a voz? E a saudade? E as mãos dadas? E o abraço? E o beijo? E o olhar? E o ontem? O hoje? O amanhã? E tu? E eu? E nós?

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Talvez um princípio de insanidade#

São muito poucos ou nenhuns os momentos em que desejo que o tempo pudesse voltar atrás e pudesse ter novamente 5 ou 6 anos... muito poucos...
Imagem do Google

# 145

Eu sabia que precisava fazer alguma coisa, eu sabia que precisava procurar, não que tivesse uma pressa mega urgente, era apenas urgente. Daí a imaginar que entre o envio de um curriculum e uma chamada telefónica de resposta demorariam apenas uns escassos três minutos... isso não imaginava. Nem imaginava que nesse mesmo dia estaria presente numa entrevista, e que seria seleccionada para outra com o cliente no dia seguinte, nem que às 11 da manhã do terceiro dia seria avisada que começava a trabalhar nesse fim de dia. Urgente passou a ter um novo significado... Tempo passou a ser pouco, trabalho vai começar a ser muito... vamos ver como vai ser...

Mandamentos de 'abre olhos'#

Não correrás, não acharás que serás veloz o suficiente para fazer um percurso em menos tempo que o normal, pelo menos não voltarás a correr com botas de salto... nem correrás sem olhar para onde pões os pés... não correrás em chão que anda, neste caso, escadas que andam... espero que fique entendido... enfim... não correrás para não cair ao comprido... e mesmo assim perder o comboio... chato, não é?
Ainda por cima 'ganhar' os vincos da escada rolante num joelho esfolado... será que alguém me viu a cair? É que fui tão rápida a pôr-me em pé...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Nús da alma # 109

O que eu sinto não é grande nem pequeno, na verdade não tem tamanho e posso dar-lhe as formas que quizer. O que eu sinto é genuino, intenso e ilimitado. O que eu sinto deixa-me tranquila, excitada e abarcada.

Etiquetas:

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Amor vs humor

Não me parece que os beijinhos que peço pareçam assim tão ...tão... coisos...

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Os amores dos outros # 13


Etiquetas:

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Tantos parabéns#



E é quando as luzes de natal começam a enfeitar as noites que começo em contagem decrescente... não para o natal... mas para os aniversários que aí vêm... será possivel que a grande fatia de pessoas que me são próximas sejam todas sagitário? Deve ser por isso esta simpatia que sinto por pessoas desse signo... mesmo achando que não deviam ter grande compatibilidade comigo... e isso porque sou caranguejo... é uma ideia apenas... ainda não foi confirmada em revistas da área ou sites próprios para isso... o que me chateia mesmo é a arma apontada sabe-se lá onde... sempre fui contra a violência...

# 144

Sempre me agradou ler quem sabe transcrever em palavras o que sente, os remoinhos, as calmarias, as desilusões, as alegrias, os desejos, as correntes fortes, os desaguares. Deixar que as palavras me entrem no peito e se transformem em sentimentos que percebo e sei como sentir. Em cada palavra certa sentir o arrepio, o aperto, a lágrima, a alegria, o desejo, o amor...
E acima de tudo isso sentir que não é desenhado, que não é projectado, planeado... sai em bruto... aí sim... fica com um valor tão alto que nunca poderá ser avaliado...

Etiquetas:

ui ui#

Ainda me sinto meio envergonhada pelo ataque de preguicite de que fui alvo esta noite, depois de acordar cheia de frio e com os pés gelados, depois de dizer ao telemóvel que precisava ir buscar um cobertor ao roupeiro, depois de pedir docemente que ele o fosse buscar para mim, recebendo a desculpa que o faria se não tivesse a mais de duas centenas de kilometros dali... deixai cair o telemóvel ao lado da almofada, enrolei-me ainda mais, pensei que tinha de acender a luz para não bater com os pés na mesa de cabeceira, pensei em aproveitar e ir beber um copinho de água, em acender a luz, saber que o cobertor estava na porta do meio, pousaria o telemóvel na mesa de cabeceira, tiraria as almofadas uma sobre a outra para não me ficar a doer o pescoço... mas o primeiro passo seria tirar a mão de dentro das cobertas e acender a luz...
... acordei esta manhã, com o telemóvel a sonorizar-me o cerebro... parecia que estava a tocar mesmo cá dentro [estava quase... encostadinho ao meu ouvido direito], as almofadas continuavam uma em cima da outra, tal como as meto quando quero ver televisão deitada, o cobertor dentro do roupeiro... e a luz desligada... devo ter apagado na certa... claro que não vou contar isto a ninguém...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Serviços#

Muito mais que uma manhã de espera, preferir a rua à sala cheia e sem ventilação ainda antes do sol ir lá alto. Depois ficar encostada a uma mesa sem serventia e distrair-me do tempo a ajudar gentes com mais idade a tirar o galãozinho e o cacau. De repente apercebi-me que por sinal alguns pensavam que era aquele o meu serviço... não seria estranho estar a trabalhar de casaco vestido e mala a tiracolo?
De todas as vezes tirei o que me foi pedido... até ser chamada pelos altifalantes...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Existem coisas fantásticas # 4


terça-feira, 20 de novembro de 2007

* 67

Tinha a vontade de lhe passar as mãos na pele, tinha o desejo de lhe pousar os olhos no rosto enquanto o via dormir. Sorvia-lhe o sabor com a sede que ele lhe despertava, provava a sua boca a cada instante sabendo que iria querer sempre mais.

De uma maneira simples aprendeu a gostar sem medos, sem esquemas, sem defesas, sem objectivos ou desesperos. Aprendeu que é bom gostar e descobriu o prazer do que é andar na rua de mão dada. Gosta dele de uma maneira grandiosa. É sua...

Etiquetas:

#

Cegueira de quem se recusa a ver#

orgulho
do Germ. ûrgoli
s. m.,
exagerado conceito que alguém faz de si próprio;
sentimento elevado da sua dignidade pessoal;
soberba;
pundonor;
brio;
vaidade;
empáfia;
aquilo de que alguém pode orgulhar-se.

«auto-estima inclui a avaliação subjectiva que uma pessoa faz de si mesma como sendo intrinsecamente positiva ou negativa em algum grau»

E como dizer que não é assim que se vai sentir melhor? Como dizer que se sente lá em cima, mas que cairá logo de seguida? Como perguntar como se esqueceu de como é? Como perguntar porque ao fim de tanto tempo continua à espera de algo que não vai acontecer?
Sei que se falar irei apenas provocar-lhe a irritação típica de quem não quer ouvir ou ver a realidade. Por isso vou-me deixando ficar calada na maior parte das vezes...outras não me aguento e tento chamar a sua atenção a pequenas coisas que não fazem sentido. A verdade é que me preocupa, mas não posso fazer nada. Dali ela só sai pelo próprio pé e decisão.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Maxime*


'- Sabe porque é que estou sempre a olhar para o relógio? Porque tenho a minha vida...'
A vida de quem deve ter uma casa vazia à espera? A vida de quem não gosta de viver em solidão e por isso escolhe uma noite animada para se esquecer da vida... da sua vida?
E depois lembrar-me da frase... ' Comporta-se como se não tivesse nada a perder...', acho que tens razão amor... *

Carrie

Nesta altura coleccionava singles...

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Question#

Porque é que será que as sextas-feiras o sorriso é maior?

Sem nada a ver#

Ela teria preferido que tivesse sido de outra maneira. Que ao menos tivesse dito adeus antes de ir embora. Ou então, que na última noite em que tinha a cabeça a repousar na almofada ao lado da sua lhe tivesse dito que não tencionava voltar ali. Preferia isso à mão que lhe prometia coisas enquanto passeava na curva ao fundo das costas. Era no silêncio que ela julgava ouvir sempre as maiores das promessas. Ainda agora, com o seu desaparecimento ela insistia em afirmar que ele gostava dela, que sentia isso...

Nús da alma # 108

Olha... afinal amo-te! Ando aqui com merdas para trás e para a frente, escrevo em draft com receios de pita parva que já não sou [ e que espero bem que nunca tenha sido], encolho-me com medos de apreciações menos boas, ou a insegurança de me poder tornar numa melga. Não preciso de provas de amor, só preciso que me digas assim de uma maneira clara [como fazes] o que queres dar e o que esperas receber.
Claro que se fizeres o pino para mim vais ter-me para sempre rendida aos teus pés... mas isso já é outra história...

Etiquetas:

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Turvo#

Nunca soube explicar o sentimento que a ligava à sua mãe. Chamava-lhe mãe e referia-se a ela como 'minha mãe' quando falava com terceiros. Mas sabia que aquilo que sentia não era nada que pudesse ser sentido por uma filha, tal como sentia que não era sentida como filha pela sua mãe. Não falava, gritava porque ela ouvia mal, ou então fingia que não ouvia para não ter de responder. O pouco tempo que passava lá em casa era passado em frente à janela, a deixar que o sol que entrava através dos vidros lhe batesse em cheio na cara, e passava assim horas, manhãs, tarde, dias inteiros. Até que se levantava para fazer o jantar e escolhia sempre uma ementa que sabia que a filha não aprovaria. Era como se uma discussão fosse bem vinda, algo que as obrigaria a falar uma com a outra. Depois deixaria escapar que a nora é que era boa, que era uma joia, chegava à malvadez de lhe dizer que era a filha que sempre desejou ter. Até a fazer explodir de raiva e falar com despeito, mandá-la ir ter com eles. Por isso ela mesmo em dias de folga, levantava-se mais cedo para sair de casa com uma desculpa qualquer, para ela não se sentar à janela todas aquelas horas e poder vaguear pela casa sem o risco de tropecar nela. Comprava o jornal e ficava horas na pastelaria do bairro, depois conversaria com alguém que já conhecesse de vista, compraria hotaliças que na realidade nem precisava e voltaria para casa na hora de almoço, para dizer que não gostava da comida que a mãe tinha feito.

Saber dizer que não#

-E vais andar nisso até quando?
-Até sentir que não aguento mais...
-Até doer? Não devias deixar chegar a tanto... e como vais saber que te doí a sério nessa altura?
-Quando chorar...

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Parabéns meu Diogo#

«Segunda-feira, Novembro 14, 2005
Estado de espera...
As emoções sucedem-se...de ansiedade passo a euforia, passo pelo medo e a curiosidade espreita...as horas nunca foram tão lentas a passar e esta manhã custa mais a passar que qualquer um dos outros dias...não consigo concentrar-me...o pensamento voa sempre para outro lugar...imagino como ele deverá estar...queria estar perto para o abraçar...É hoje que as coisas mudam aqui dentro...deixou de ser o irmão mais novo que me recusava a deixar crescer, para ser o pai da criança mais bonita deste mundo! Agora acabo de sentir que deixamos para trás a nossa infância e adolescência...e no meio de toda esta confusão de sentimentos...acabo também por sentir uma pontinha de melancolia... 10:30
Continuar...
14.32'Estou? Boa tarde...deu entrada aí esta manhã...queria saber em que ponto está...''Ainda está atrasada...'E cá dentro esta ansiedade sempre a crescer, e saber que nada posso fazer para a ajudar a passar estas horas...
Continuar...#2
15.58Não aguento mais...não consigo fazer nada...perdi totalmente a concentração...dois telemóveis...duas redes...96...desligado...91...desligado......está lá dentro......espero...desespero...
Continuar #3
17.56Ainda nada...doí-me a barriga...os telemóveis continuam desligados...esta espera deixa-me desesperada...vou até lá...bem sei que não resolvo nada...mas talvez o meu irmão se sinta confortado por nos saber lá...eu sinto-me...por lá estar...
Finalmente
00.05Cheguei agora a casa...já sou tia! O D. nasceu pouco antes das 19.00h, 3.200kg, cabelo preto, unhas compridas, estava a chuchar no dedo...ainda não estava vestido...a mãe estava bem quando a vi, apenas cansada e um pouco desesperada por ainda não o ter visto...foi demorado e penoso para ela, o D. recusou-se a encaixar e sair por ele, depois de muitas horas de dores e uma epidural, teve de ser feita cesariana e a mãe levou uma anestesia geral...só demonstra que o puto é teimoso...O mano não cabia em si de contente logo depois de ter visto a mãe e de ter visto o D. pela primeira vez...parabéns aos dois...O D. é a coisa mais linda que eu vi em toda a minha vida...»
Foi assim à dois anos atrás... hoje as histórias com ele são mais que muitas, os risos são uma constante e o amor tão grande como o que me pode caber num coração e transbordar... amo-te muito meu sobrinho. Serás sempre uma parte de mim.

* 66

Ela disse:
-Não faças isso aqui que vais sujar a alcatifa...
E eu respondi:
- Não vou nada... isto não suja! É água...
Resultado:
A alcatifa ficou manchada... mas as minhas bolinhas de sabão eram lindas...

terça-feira, 13 de novembro de 2007

# 143

miótico
adj.,
relativo à miose.
miose
do Gr. mýo, fechar
s. f.,
contracção permanente ou anormal da pupila;
Gram.,
demasiada concisão de estilo.
do Gr. meíosis, diminuição
s. f.,
vd. meiose.
meiose
s. f.,
tipo de divisão celular na qual o número de cromossomas é reduzido a metade através de duas divisões sucessivas, constituindo uma parte do ciclo de vida em que é assegurado que, durante a fecundação, o número de cromossomas da espécie permanece constante de geração em geração;
o m. q. miose.[ok esta já não tem nada a ver com o assunto...]
mesmo não sendo o melhor... era bem melhor que assim...

# 142

Não sou pessoa de desistir, não sei baixar os braços, nunca o soube... talvez seja um apêndice da minha teimosia. Querer sempre conseguir chegar até onde acho que tenho de ir. Achar que a solução está lá, mesmo quando não se vê. Ainda não estou lá. Onde quero estar. Ou como quero estar. Mas vou andando para a frente e a cada passo que dou espero ser o último para o que falta. Poder virar-me depois para outro lado e caminhar sem metas... vaguear é muito bom. Mas confesso que apesar da teimosia, apesar de saber que não me fico por aqui. Apesar de tudo o que sei que ainda vou fazer, apesar de saber que ainda não estou nem perto... sinto que estou a ficar farta. Não cansada. Mas revoltada. Chateada.
Achei que ficaria resolvido por estes dias. Não ficou. Vou continuar a procurar quem me saiba dizer alguma coisa de concreto.

modern talking--you're my heart you're my soul

O que a adolescência nos permite...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Nús da alma # 107

Um dia mando imprimir uma t-shirt com uma declaração de amor para te mostrar na plataforma da estação, mesmo antes do comboio partir ...

Imagem do Google

Etiquetas:

Nús da alma # 106

Quando achares que estou a falar demais [ porque eu sei que falo demais], não me mandes calar, nem me mandes meter parêntesis no que pode estar a mais... [isso quando achares que estou a falar de mais]
... existem melhores maneiras de calar alguém... [tu sabes do que falo e do que [gosto] espero que faças]

Etiquetas:

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Sem demoras#

Recebi uma carta do Hospital Amadora/Sintra... senti-me culpada por ter sido tão critica... afinal já me estavam a mandar a data da consulta de oftalmologia....
Mas não... é mesmo a conta do internamento...

Dar à Luz#

Bastou apenas um dia para que aqui na zona se pusessem todos os postes com as luzes de natal, um dia em que trabalharam afincadamente para que um dia destes se acendam todas as luzes e se ganhe assim o ar natalício, já que o tempo tem estado a fazer batota.
Aproveitei o embalo para subir à arrecadação a buscar os meus acessórios de natal... que consistem apenas num presépio com música de corda e numa vela assente numa estrelinha carregada de fungos... perdão... de cogumelos... e assim se enfeita um lar... o meu...
Um dia... ainda estou surpreendida... antigamente andava-se nisto cerca de uma semana... metiam-se calcanhares em buracos abertos nas calçadas... piadola...

# 141

Ando fascinada com uma tal fotografia, e mais do que se percebe nos olhos e no sorriso, muito mais que os cabelos que esvoaçam e da próximidade dos rostos... muito mais que tudo é o toque das mãos... a maneira como estão uma sobre a outra.
... são as mãos que me prendem o olhar... como se fossem elas apenas o motivo do retrato e tudo o resto fosse apenas acessório...

Nús da alma #105

Ando a remoer um pensamento, uma dúvida... depois tento afastar essa ideia de mim, mas o simples abanar de cabeça não tem obtido qualquer resultado... pensar demais... talvez esteja apenas a tentar ver o que nunca ali esteve... talvez esteja estúpidamente a assombrar a felicidade que estou a sentir... não existe um mal para todo o bem? Tal como existe um bem para todo o mal...
Entro nas palavras... procuro-lhes uma imagem... não chego a conclusões nenhumas... eu sei... parar com isto... tentarei fazê-lo... abano a cabeça mais uma vez...

Etiquetas:

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

# 140

É... é verdade sim... considero-me uma pessoa cheia de sorte! Depois das hipóteses que me colocaram, depois de saber o resultado... a frase que se repetia cá dentro era:
-Tive sorte, tive tanta sorte!
...Apesar de todas as interrogações que ainda tenho... sei que tive muita e muita sorte...

Nús da alma # 104

Não deixa de ser curioso constatar que desde que nos conhecemos comecei apenas a utilizar contas de diminuir...
... a ilusão de que o tempo assim fica mais curto...

Etiquetas:

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Descida aos infernos do serviço de saúde pública # 4

Quarta-feira, tarde, não sei as horas, ainda não tenho relógio nem telemóvel. Uma auxiliar vem apresentar-se e anuncia que se precisar de alguma coisa ela estará por ali, ensina-me a usar o mecanismo da cama, diz-me onde está a luz e a campainha para a chamar. Gosto da sua atitude despachada. Mais análises de glicémia, antes de sair do SO fui avisada para recusar a comida, se fosse chamada para a ressonância a tarde passa e sinto fome. Em dois dias comi um iogurte, duas bolachas, um pão com manteiga e um copo de café com leite. Dezoito horas [já tenho telemóvel], entra uma médica que me questiona sobre o que me levou ali. Mais testes, mais dedos a tocar no nariz, mais dedos que mexem, manda-me esperar um pouco antes de sair, demora... mas volta com mais duas médicas. Avisam que vão fazer-me um teste de colírio. A pupila reage, elas reagem de contentamento, já não vão precisar fazer a ressonância, eu reago de contente porque percebo que não tenho um problema neurológico. Dão-me o nome do problema, dizem que tenho de voltar a oftalmologia, querem completar o exame neurológico, tenho de me levantar e vir andar para o corredor, piso uma das linhas que dividem os mosaicos. Estou capaz de saltar de contentamento, estupidamente acho que ainda me vão dar alta naquele dia. Engano-me.
Janto. Durmo mal, tenho de continuar com o soro, continuo a ser picada regularmente nos dedos, para controle de glicémia. De manhã tenho de esperar que me venham desligar o soro para tomar duche, depois espero que o venham ligar quase toda a manhã. É feriado, o pessoal está reduzido, voltam a ligar-me o soro perto da hora de almoço, à noite quando vêm trocar o saco esta mais de meio, é deitado fora e metem um novo. Sexta feira, mais espera para desligarem o soro, tenho pressa para tomar duche, tenho consulta de oftalmologia marcada para as nove. O pessoal continua a ser reduzido, tolerância de ponte. Pudessemos nós doentes poder fazer tolerância de doença. Não podemos. Comer a correr com a auxiliar a olhar para mim à minha espera para me levar ao serviço. Nove em ponto quando chegamos lá. Os médicos estão dentro do consultório a conversar e a preparar os processos [achei eu], a auxiliar avisa quem eu sou, a 'minha médica' sorri e acho-a simpática, manda-me esperar na sala. Espero. Dez e meia e ainda não foi chamado ninguém para as consultas, os nomes que se ouvem é para o gabinete de medicão de tensão ocular e outros testes. Quinze para as onze quando se chamam os primeiros pacientes, pergunto-me porque marcarão eles consultas a partir das nove. Um senhor de mais idade refila porque tinha consulta para as 10.30, está mais de 15 minutos atrasado. Mal eu sabia que o senhor seria atendido bem antes de mim. Onze. Meio dia. Uma da tarde. O médico que me acompanhou desde a urgência de oftalmologia até às consultas entra vindo das urgências, franze a testa e pergunta se ainda não estou despachada... pois não... não estou... entra no gabinete e sai chamando-me. Não estava lá nenhum paciente fazia tempo. Ainda hoje não percebo porque não me chamou. A sensação que me passou é que estava a fazer um frete por me atender, depois de fazer novamente o teste do colirio saí novamente, com os outros dois médicos, fico sózinha no gabinete cerca de meia hora. Voltam, feliz e contente por se perceber claramente que a pupila contrai com o colírio. Cheira-me a café e cigarros. Não consigo deixar de a odiar naquele instante e odiar-me a mim por ter gostado dela ao primeiro olhar. Não sabe respeitar um doente. Escreve no dossier do processo, conferenciam entre eles sem nenhum deles falar directamente comigo. Sem aguentar pergunto o que tenho, que nome lhe dão. Não me responde logo, ao mandar-me levantar para ir com ela diz o nome. Saimos as duas do gabinete com ela a mandar-me esperar um pouco enquanto pousa o dossier em cima do balcão do serviço, não há ninguém por ali, só eu e ela, vira-me as costas e desaparece, nem percebi que tinha ido embora. Fico ali, assim, sem saber nada em concreto. A auxiliar vem e telefona para o serviço de Neurologia. Podem vir buscar-me. Mas eu concretamente não sei nada. Será que pareço uma analfabeta? Ignorante? A quem achará aquela médica que deve falar sobre o que se passa? Não sou eu a paciente?
Volto a Neurologia, as auxiliares estão indignadas pelo tempo que me fizeram esperar. Já tinham telefonado para lá para saber o que se passava.
A médica Neurologista aparece por volta das 15. Não é neurológico. Vou ter alta. Sem me conter pergunto-lhe se imagina o que estou a sentir. Entrei e vou sair exactamente da mesma maneira. Não sei o que tenho. Não sei se tem cura. Se tem tratamento. Se acaba por passar sozinho. Não sei que cuidados ter. Não sei se precisa de algum cuidado. Sei o nome, irónicamente sorrio e digo já não ser mau saber pelo menos o nome...
Tenho a sorte de 'apanhar' aquela médica, sinto que se preocupa... diz que vai falar com a médica de oftalmologia. Volta e diz que não a encontrou, mas que falou com colegas do serviço, não sabe quanto tempo demora a passar ou se chegará a passar, deixou a indicação de que têm de me marcar nova consulta de oftalmologia para falar com os médicos. Que vai passar uma carta para a médica de familia e um relatório que tenho de trazer no dia da consulta. Sinto que se sente culpada por não poder fazer mais. Não tem culpa, não é ela...
Espera de quase duas horas, já vestida e pronta para sair, pelo fim da reunião de mudança de turno de enfermagem, preciso dos documentos e que me tirem o cateter [ou lá como se chama isto]
Aqui estou eu... livre do cativeiro e do pesadelo de estar lá dentro mas sem avançar quase nada naquilo que não sei ao certo o que é...
A solução está em arranjar dinheiro e pagar a um especialista particular, mesmo que não possam fazer nada sabem pelo menos explicar o que se passa...
É este o nosso serviço público de saúde... é assim que nos tratam... é assim que nos sentimos tratados... demasiado triste... mas realidade.

Descida aos infernos do serviço de saúde pública # 3

Terça-feira final da manhã, ainda nem tinha bem sentido a maciez da cama no Hospital dos Capuchos e já me estavam a avisar que não pertencia ao hospital, que teria de ser transferida para o Hospital Amadora/Sintra. Uma ressonância sai cara, caríssima... e mais importante que resolver a vida dos pacientes é passar a bola a outro e não ao mesmo.
Espera por novo transporte e desta vez rumo de ambulância até à Amadora. Convém lembrar que era uma doente internada em Neurologia que estava a ser transferida de hospital... mas o espanto tomou conta de mim quando fui 'largada' no serviço de urgência, de pijaminha e chinelos à espera de ser chamada para a triagem. A hora de entrada a registar era a das 14.55. Sentadinha na sala de espera interior [nada mau...podiam ter-me mandado para a exterior, a que fica junto à entrada do hospital], lá me preparei para esperar, meia hora e fui chamada à triagem, continuava sem entender porque estava ali, achei que ia ser apenas uma transferencia de internamento, já que me faltava apenas a ressonância para fazer. Pois é... enganadinha de todo, as horas foram passando e eu fui esperando, sentadinha na sala de espera das urgências [a interior, menos mal], e esperei... e esperei... e desesperei até ouvir o meu nome ser chamado pelos altifalantes... olhei para o relógio do corredor enquanto me dirigia ao gabinete anunciado, meia noite e um quarto... nada mau... esperei um bocadinho... em pijama e chinelos e sem comer nem beber, já que o espólio tinha sido dado a familiares no outro hospital. Nove horas de espera na sala de urgência de um hospital, vindo transferida do serviço de Neurologia de outro. Nove horas de espera para depois entrar no gabinete e em menos de cinco minutos o médico dizer que tinha então de ficar internada para realizar a ressonância... nove horinhas... estaria eu num filme de terror?
Tira o pijama, veste uma batinha [ou seria antes um pedaço de tecido com atilho no pescoço?], cuequinha de rede, chinelinho é mentira... fico com os meus. maca, encostada às outras que ali estavam, encostada...literalmente encostada, bastaria esticar um dedo para tocar no senhor do lado... que por acaso estava cheio de gases... coitado que estava doente... coitada de mim que entrei ali a ver mal e se por ali continua-se sairia na certa com outras maleitas. O auxiliar percebe e apercebe-se do que se passa, leva-me para o corredor... quase duas da manhã quando me levam para o serviço de SO, chocante como nunca pensei que fosse, ali as pessoas amontoam-se nas enfermarias, nos corredores, as macas são posicionadas nos corredores lado a lado, ali passa apenas uma pessoa pelo meio delas, fico no corredor, apetece-me tapar os ouvidos para deixar de ouvir os gemidos, os escarros puxados, fecho os olhos com força e tenho pena de mim, dos outros que ali estão. Bem vinda ao inferno é o que penso repetidamente.
Não como nada desde a uma da tarde, são duas da manhã, alguém me vem picar o dedo para controlar a glicémia, acuso 64.
-Há quanto tempo não come?
-Desde as 13.
Desaparece e volta de seguida com um iogurte e um pacote de bolachas. Coloca-me o soro.
-Preciso mesmo disto?
-Claro, se não precisa-se não lho estava a colocar. Vai doer um bocadinho quando começar a correr.
Não doí.
Dormito, sinto-me tão cansada, preciso de dormir, mas aqueles barulhos entram-me na cabeça e apenas deixam que feche os olhos. Um médico aproxima-se de mim e pergunta se me mediram a tensão ocular, não sei responder, digo que fui observada em vários aparelhos, mas que não sei se me mediram a tensão ocular. Não sei. Chega a manhã, rodam-se os turnos, enfermeiros passam informações de cada paciente, depois os médicos... tantos... mais de dez na certa, vêm juntos, uma médica à frente fala alto a situação de cada paciente. Irrita-me a maneira como diz 'Este doentinho...' antes de começar a falar do caso. Chega a minha vez, diz que estou transferida dos Capuchos, diz que não fui vista por um oftalmologista, estou acordada, consciente e lucida, tento dizer que fui vista sim, ignora-me, sou invisivel!
Dez horas, já tomei duche, já comi pão com manteiga e café com leite. Uma médica aproxima-se da minha maca e tira o processo sem me dirigir palavra, vai embora com o dossier nas mãos. Fui apanhada de surpresa. Volta cerca de uma hora depois, tem os olhos vermelhos como se estivesse estado a dormir. Manda um auxiliar levar-me à urgência de oftalmologia. Sou empurrada. Onze, meio dia, uma... sou atendida, já passei 'pelas brasas' enquanto esperava, afinal ali está mais calmo, sem grandes barulhos e eu continuo deitada na maca. Sou chamada, digo que posso andar e entro no gabinete pelo meu pé. Mais aparelhos, luzes... não reage, reage pouco... não é um problema oftálmico. Mandam-me de volta para o serviço, preciso fazer a ressonância. Alguém ocupou o meu espaço no corredor do SO, a maca é enfiada para dentro do gabinete onde guardam o material de consumo, gavetas alinhadas com etiquetas indicam onde estão as compressas, as seringas, os adesivos... espero ali cerca de hora e meia até a cama ficar vaga no serviço de Neurologia. Levam-me até à cama de maca, aviso que posso andar, mas mais uma vez sou ignorada, 'ginástica' feita para a maca entrar dentro do quarto que não é grande, passo para a cama sem tocar no chão...sinto-me ridicula por o fazer...

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Descida aos infernos do serviço de saúde pública # 2


Depois de vestida com a fatiota do hospital, a auxiliar aproximou-se e pediu-me para a acompanhar até a uma maca vazia, mandou-me subir e esperar pelos colegas o que não demorou muito, objectos de valor para um saco, roupas e restantes coisas para outro. Duas horas, era o tempo que eu estimava demorar ali dentro... não valia de nada assustar ninguém, para assustada chegava eu...
Nem cinco minutos demoraram a mandar um auxiliar que me levaria até ao serviço de SO de neurologia. Lá fui eu a ver os tectos antigos e em obras de restauração do hospital de S. José [e deixem que vos diga que aquilo é giro pá! ]. Desconfortável, é a palavra que melhor define o que senti quando lá cheguei, uma mulher aparentemente da minha idade e nas restantes oito camas, pessoas idosas e em estado... digamos que... preocupante... Fui logo abordada por um médico neurologista que queria saber o que se passava para estar ali, foi preenchida uma ficha com os meus dados que dei de boa vontade, fiz os primeiros testes de neurologia, levei os dedos à ponta do nariz, deslizei o calcanhar pela canela da outra perna, fechei os olhos e mantive os braços esticados para cima... seriam umas dez horas quando me levaram para fazer o TAC, na verdade nem sei, perdi um pouco a noção das horas, o relógio tinha ficado no espólio... voltei para a sala de SO, voltei a ser questionada por outro médico que voltou a fazer os mesmos testes, colheram sangue para análises e deixaram o cateter [estarei a dizer e escrever bem?], fechei os olhos e tentei abstrair-me dos sons, do cheiro...
Em estado de sonolência avançada fui cutucada por um médico neurologista que trazia o TAC e me deu a boa noticia de que esta não trazia nada de anormal. Perguntei-lhe as horas logo depois de saber o resultado e lembro-me de pensar que teria de ligar a alguém para me vir buscar, já que eram 2.30 da manhã e já não tinha transportes para casa. Quase que nem raciocinei com as próximas noticias que ele me dava.
-Como você é uma rapariga nova, não a vamos deixar sair sem perceber o que se passa consigo, vamos pedir uma ressonância para sabermos o que originou isso e por isso, não hoje mas amanhã de manhã vai ser transferida para medicina 1.
Espera lá! Ficar? Resignei-me na hora... precisava mesmo saber o que se passava comigo, não dormi o resto da noite. Ouvia os barulhos e a senhora do canto que estava presa à maca, já que tinha caído dela logo ao inicio da noite enquanto se tentava levantar. 'Aristides! Anda cá já! Maria, trás-me essa saia e essa blusa para eu vestir que tenho de ir trabalhar.'
Na primeira ronda da manhã pedi para fazer um telefonema, precisava avisar alguém da familia, precisava que avisassem no trabalho. Já andavam à minha procura.
Durante a manhã, mais testes neurológicos.
-Siga o meu dedo sem mexer a cabeça, sem tirar os olhos dos meus diga que mão está a mexer. E agora, qual delas é?
Apenas me apercebi que seria transferida mas não dentro do S. José na hora em que entrou alguém com uma guia para me levar de ambulância... credo! Nunca tinha andado de ambulância... nem de cadeira de rodas que não podemos andar pelo próprio pé por ali fora... nem as sirenes ligaram... humpffff
Capuchos... li o nome da entrada... já lá fui visitar alguém... seria uma breve passagem, antes das dezoito estaria cá fora na certa.
O descontrole emocional aconteceu depois de me indicarem qual seria a cama, depois de me sentar e de uma enfermeira mandar trazer mais um cobertor porque as noites ali eram frias, avisei que sairia naquele dia, riu-se e respondeu que isso era o que todos diziam ao entrar.
E chorei, e chorei, e chorei... e dizia que precisava chorar... a etapa pior desta experiência estava para acontecer dali a pouco... mas isso nessa altura eu ainda não sabia....

Descida aos infernos do serviço de saúde pública # I

Às vezes percebemos que alguma coisa não está bem, mas mesmo assim temos tendência para deixar andar, na esperança que acabe por passar, que não seja nada de mais...
Foi o que me aconteceu. Percebi que alguma coisa não estava bem comigo, mas mesmo assim deixei andar, achei que era coisa pouca, que talvez apenas estivesse cansada, que acabaria por passar sem que para isso eu tivesse que perder tempo na espera de uma urgência [infelizmente quase todos sabemos o que é estar nas urgências de um centro de saúde ou hospital, ao desespero a que nos leva... só algo muito mau me leva para aqueles lados].
Mau foi quando pesquisei no Google o que poderia causar aquilo que estava a sentir... aí assutei-me a sério e sem dizer a ninguém o que se passava comigo decidi passar numa urgência de oftalmologia nesse dia à noite, a minha maior preocupação no meio de tantas era não assustar a minha familia, alarmando-a para algo que não sabia o que era, ou que até não podia ser nada.
O problema não começou logo quando fui informada que o hospital a que pertenço, que por acaso é o espetacular e fantástico hospital Amadora/Sintra, não tinha urgências de oftalmologia a partir das 20 horas, ou seja, ninguém que pertença à zona pode ficar mal da vista a partir das 20 horas ou fins de semana e feriados. Precisei então de me deslocar ao hospital de S. José para ser vista por um especialista da área. Entrei no serviço de urgências eram 20.11 [era esta a hora marcada na minha primeira pulseirinha de identificação], foi relativamente rápido, talvez uma meia hora até ser vista. Foi aí que começaram os primeiros apertos no peito e alguns segundos sem respirar. Não era um problema oftálmico, ele não via nada que tivesse a ver com aquela especialidade e informou-me que me ia passar para Neurologia. Passar? Como se processa isso? Saí e esperei onde me disseram para esperar. Não esperei muito, talvez 10, 15 minutos até ser chamada outra vez por uma auxiliar. Desta vez levaram-me para dentro, para a zona de enfermagem, onde já haviam umas quantas macas cheias de doentes. A auxiliar mandou-me esperar um pouco e desapareceu, voltou logo de seguida com um saco enorme transparente numa mão e um pijama e chinelos na outra.
-Vai ter de se despir toda, ficar apenas em cuecas e vestir isto, mete todos os seus valores dentro deste saco e espera um pouco que já cá vem alguém fazer-lhe o espólio.
-Como? Espólio? Vestir isso? Que se passa que ainda não percebi?
-Pois... vai ter de fazer um breve internamento. Para justificarem os exames que lhe vão ser feitos.
-Breve? Breve de quanto tempo aproximadamente?'
-Isso não lhe sei dizer na certa, mas posso dizer-lhe que entrou um senhor ás 19 e antes de lhe vir trazer o seu saco, lhe entreguei os dele para se ir embora.
Pelos meus rápidos calculos o senhor demorou-se ali bem menos que duas horas... sendo assim, lá me fui despir e decidi que não ia alertar ninguém... em duas horas estaria a caminho de casa... mal eu sabia o inferno a que estava a descer para o resto da semana...

A interpretação do crime#



«Satisfazer um instinto selvagem dá incomparavelmente mais prazer que satisfazer um instinto civilizado.»

Sigmund Freud

Etiquetas:

sábado, 3 de novembro de 2007

# 139

Não deixa de ser curiosa a maneira como aceitamos uma coisa menos boa de melhor maneira, só porque ao inicio julgavamos que podia ser algo bem pior...
... por momentos senti que a vida me puxava um pé... e só conseguia pensar, 'não agora! não agora!'

Etiquetas: