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Os pensamentos
são assim …invasivos, incontornáveis, chegam assim sem serem convidados e ali
se deixam ficar às vezes tempo demais...
Acho que tenho
uma mente talvez um pouco imaginativa demais. Depois... portuguesa como sou e
colando-me à velha imagem de pessimista por natureza...
Deixo a mente
vaguear enquanto circulo a uma velocidade estonteante se 100km hora numa IC19
quase deserta de final de dia dum mês de Agosto... os acidentes acontecem, para
o provar o toque de beira de estrada que se desenrola enquanto passo. E se
fosse eu? E se fosse algo mais grave que um toque inofensivo? Quem te diria o
quanto eu gosto de ti? Quem te diria a que me sabes? A que me cheiras? Quem te
diria o quanto te sinto entranhado debaixo da pele? Quem te diria o quando me
afogo nos teus olhos enormes que me olham com amor... aquele amor insubstituível
e sem mentiras, aquele amor que temos a certeza que nunca acabará. Quem te
diria tudo o que te quero? Quem?
Seriam as
palavras de alguém, que diriam aquilo que achavam que deveria ser dito. Que se
colocariam no meu lugar e utilizariam as suas palavras... NUNCA as minhas!
Acreditando que era isso que eu diria, acreditando estarem a dizer o que eu
sentiria.
De repente o
peito doí, que desespero achar que nunca saberias por mim o quanto te
gosto. Ter tantos planos de registar a
tua chegada e nunca deixar que andasse para a frente por falta de tempo. É
verdade filho, tu preenches a nossa vida de tal maneira que tudo o resto passou
para segundo plano, por mais que queiramos voltar a normalizar a coisa, deixa
de ser igual. O relógio passa a mostrar as horas mais nitidamente, deixa de
fazer sentido o pensar ‘deixa...só mais
um bocadinho’... tenho de te deixar
no infantário antes de ir trabalhar, tenho de te ir buscar até uma determinada
hora, tens de comer, tomar banho, tens de te deitar...
As noites são
tudo menos descansadas, acordas com fome, ou um sonho mau que veio, choras,
levantas-te, não queres a luz apagada, pedes para vir para a nossa cama...
E tens o mais
lindo dos sorrisos a mais doce das gargalhadas, és o maior trapalhão de todos
os tempos quando começas a falar...
Cantas, adoras
cantar, não o que te pedem... sempre o que te apetece... vezes sem conta... e
quando caio na tentação de te direcionar, de começar a cantar uma outra música,
lá vens tu com um não gigante, ‘essa não’...
Viciei-me nos
teus abraços, nesses braços rechonchudos de dedos pequeninos que me agarram com
força à volta do pescoço... na frase
provocatória ‘a mãe é minha’, nos
gritinhos quando te tentam tirar do meu colo...
Preenches-me...
giras-me num todo... uma rotação ininterrupta que me mantém mais viva.
Se és tudo?
Filho... para nós teus pais és bem mais que isso... e aqui a palavra infinito
nunca vai chegar...
‘Gosto muito de ti’ ... ‘gôta ti’.