Batimento Cardíaco

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

A ver#

Nem sempre tenho pesadelos, às vezes também sonho. Vejo-me em vestidos com flores e de totós espalmados iguais aos que a minha mãe fazia quando desistiu de lutar contra os elásticos [ ganharam os ganchos amarelos, fortes que não escorregavam]. Vejo-me a correr de sandálias abertas à frente e de cores fortes [que um dia quis afogar numa ribeira], vejo-me a querer crescer depressa e a ter maminhas grandes [que invento com novelos de peúgas do meu pai]. Vejo-me a querer pintar os olhos e a passar em frente ao espelho com o véu de casamento da minha mãe na cabeça. Vejo-me a ouvir segredos e a aprender como se beija. Vejo-me a dar duas voltas na chave da casa de banho para poder espreitar as gavetas que guardam os segredos femininos. Vejo a meter-me em bicos de pés para chegar aos perfumes dos adultos. Vejo-me a espreitar as cartas com selos de quem partiu de vez e tentar perceber como é que palavras tão bonitas podiam despertar lágrimas. Vejo-me no instante em que descobri o segredo e senti as asas a baterem-me dentro do peito [guardo-o até hoje, sem eles saberem]. Vejo-me a ir até mais longe, a conhecer mais gente, a criar laços, a gostar, a querer bem. Vejo-me a desejar independência e a fazer escolhas. Vejo-me em mais segredos, em histórias mal contadas, vejo-me em paixões e desilusões. Vejo-me em lágrimas que secam depressa pelo desejo de continuar em frente. Vejo-me aqui e ali, nos abraços sinceros de quem fica e de quem quer ficar. Vejo-me por perto e depois mais longe. Vejo-me na honestidade e na sinceridade. Vejo-me a dar e a gostar de receber. Vejo-me a crescer. Vejo a desiludir-me quando espero mais de alguém. Vejo-me quase pronta a desistir de encontrar. Vejo-me em quereres, em surpresas e em abraços. Vejo-me a crescer mais um pouco a desejar e a encontrar. Vejo-me em surpresas, em carinhos e beijinhos. Vejo-me a sorrir... quase sempre a sorrir...

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