Batimento Cardíaco

sexta-feira, 28 de março de 2008

Exploração de noticias deixa-me cansada#

Violência na escola aqui, violência na escola ali, medidas a tomar, medidas tomadas em outros países, carrego no botão que vai mudando os canais e a história repete-se em mais umas quatro estações. Acompanhamento mental... castigos... a culpa é dos pais... blá, blá, blá... vê-se que quem fala assim nunca sentiu na pele e de perto essa indisciplina escolar.
Decorriam os anos de 1986/1987, estava numa turma das mais sobrecarregada de alunos, ascendíamos os 30, quando me lembro bem de turmas compostas por 20 alunos na preparatória. Ao principio o espanto, pelos gritos, pelo tempo que se demoravam a sentar, pelos livros pelo chão. Alguns risos e admiração pela coragem em enfrentarem professores. Novidades. Depois o deixar de rir, o deixar de admirar, achar que exageravam, que perdiam a razão, abstrair-me daquilo tudo. Éramos alunos na média dos 13/14 anos. Alunos que faltavam a algumas disciplinas para irem beber para a tasca mais próxima. Que arrancavam quadrados de linóleo do chão e os atiravam na direcção do quadro quando a professora estava a escrever nele. Pedaços de giz a voar, uma professora recem formada de baixa médica por motivos psicológicos logo no primeiro período. Ninguém para a substituir, horas livres, chegada às aulas seguintes completamente alcoolizados. A directora de turma em estado avançado de gravidez que perde o bebé, mais uma vaga por preencher, mais tempo livre. Entradas em grupo pelas janelas, saídas pelas janelas do primeiro andar, agarrados à canalização. Cigarros fumados na sala, carícias e beijos, a fechadura da porta bloqueada, a porta sem fechadura, a sala sem a porta. A visita da directora do conselho directivo a ler o comunicado em que toda a turma seria castigada com uma participação escrita em todos os processos. Faltas colectivas. Meia dúzia que era castigada sem motivos. Não tínhamos telemóveis, não tínhamos internet, pertencia à turma mais problemática da escola e ignorava-os... nos intervalos acompanhava duas colegas, afastávamo-nos.
Um dos piores colegas, a nível de comportamento, era meu vizinho, morávamos no mesmo prédio. Ouvi muitas das vezes o choro e os gritos pelas tareias de cinto que o pai rígido lhe dava, de quando chegava a casa uma participação de mau comportamento. Eram 4 irmãos, nenhum dos outros deram ou davam problemas na escola, aquele era a excepção... a educação dos 4 era dada da mesma maneira.
Hoje, quando olho para trás nas memórias e me lembro desses tempos parece-me quase impossível que aquele miúdo tenha dado lugar ao adulto com um emprego de longa data que me diz boa tarde ou bom dia quando vou visitar os meus pais, fascina-me vê-lo a passar as mãos pelo cabelo do filho em jeito de o pentear, do riso e do carinho nos gestos que tem com ele. Sei pela mulher dele que prefere um bom filme de televisão ou a visita de amigos lá a casa, do que sair à noite para ir beber um copo ou dançar. Olho para ele e penso se chegou a confessar alguma vez à sua companheira que foi expulso de casa quando tinha 13 anos, por um pai desesperado, como castigo de um dia para aprender a controlar os seus impulsos de rebelde.
Penso se ele saberá que um dia o pai dele conversava com o meu e chorava enquanto confessava baixinho:' Um dia tenho medo de cegar de desespero e bater-lhe até dar cabo dele, já não sei o que mais fazer.'
É tão mais fácil meter a culpa nos pais. Existem coisas que não são de agora, o indisciplina na escola é uma delas. É demasiado simples... ou se é parvo, ou não se é... alguns escolhem sê-lo, a pensar que têm piada... não têm! A maioria das vezes são gozados nas costas por aqueles que se riem das coisas que eles fazem. Não são cool... são mesmo é parvos.

1 Comentários:

  • Penso que os alunos vão muitas vezes até onde os deixam ir.
    Dei aulas nas piores escolas do Porto, em termos de comportamento e de problemática social, e nunca sofri qualquer tipo de agressão. Tratava os alunos com respeito, com olhar sério e como pessoas inteligentes que o são. Sabiam que comigo não podiam passar o risco. Não me alterava nem elevava a voz. Uma vez por mês reservava uma aula somente para os escutar. Sempre resultou.
    Já não lecciono por escolha pessoal mas fiz grandes amigos entre os meus alunos.
    [Sempre fiz parte da turma mais problemática da escola. As turmas de artes são sempre as mais faladas, mesmo que nem tivessemos feito nada...]

    Por Blogger [Ariana Aragão], Às 28 de março de 2008 às 14:35  

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