Batimento Cardíaco

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Furacão#

O desejo de voltar para casa ao final do dia. Correntes de multidão que se apinham nas plataformas da estação, que se infiltram para se acercarem mais dos limites. Acham-se espertas, são espertas. Depois de sentadas recusam-se a levantar os olhos das revistas de imprensa cor de cosa. Pelo tempo que demoram a virar a página, deixam adivinhar o pouco que gostam de ler, entretêm-se com as imagens e chega-lhes saber da vida dos outros. Talvez assim se esqueçam das delas. O homem com jeitos femininos que cruza a perna e escreve longas mensagens no telemóvel, tirou-lhe o silêncio. Espera e volta a escrever. Quem sabe mensagens de amor...
Gentes de trabalho, carregadas com sacos de compras, cheiros nauseabundos depois de um dia de trabalho intenso, cheiro a chamon acabado de fumar, cheiro a álcool que foi tragado vezes sem conta de forma a ajudar a passar o dia. Mãos calejadas, esbranquiçadas, mãos que soltam o cheiro da lixívia que se utilizou nas limpezas. Alguém entra com o cheiro do frango assado que trás para o jantar. A mulher das madeixas acabadas de fazer que olha com altivez para algumas das pessoas, cheira fortemente a algum perfume comprado numa perfumaria de shooping. Alguém ri muito alto enquanto fala ao telemóvel, enrola uma madeixa de cabelo nos dedos e admira a imagem que a janela lhe mostra de si própria, talvez se ria para si, de si. Um senhor de sobretudo que vai de olhos fechados deixa pender a cabeça para a frente, alguém se ri. O homem das mensagens continua a escrever com um sorriso idiota na cara. Vaga um lugar. Sento-me.

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