Vaguear#
Estavam lá as marcas... uns pulsos de mulher na certa, sim. Eram de certeza de mulher, demasiado delicados... embora ele tivesse uma imagem delicada, dissera-lhe um dia que era aquilo que os outros queriam ver, não aquilo que ele queria ser. Ela sempre se olhara ao espelho e esperava e queria ver-se a ela e não uma estranha. Não seguia modas, não fazia dietas, não se penteava a tentar imitar estilos, não tinha vestidos vintage, não gostava de estampagens berrantes, nem de saltos de agulha, detestava sapatos bicudos que lhe faziam doer os pés. Sentia-se mal com calças de cintura demasiado descaída. Tinha os peitos demasiado grandes para soutiens almofadados. Não tinha saias de pregas, nem calções. Tinha poucas saias que se tornavam demasiadas para as vezes que as decidia vestir. Faltava-lhe a maior parte das vezes a delicadeza para vestir umas meias de seda ou licra ou vidro ou fosse lá o que fosse que para ela a única diferença visivel era entre mousses e mais leves, para ela era tudo collants de senhora, puxava-lhe fios pela manhã quando tinha pressa para sair. Escolhia calças, pelo prático que era. Voltava a olhar os pulsos ali tão à mão... tão femininos, não eram os dele de certeza... apesar de tudo.
E depois lembrava-se que nem sabia quem era, lembrava-se das mãos, lembrava-se de ver um peito sem pelos pela abertura da camisa, lembrava-se do sorriso e do olhar, lembrava-se da boca dele, do cabelo. Lembrava-se do que ele dissera sobre ser o que era e de mostrar o que os outros queriam ver. Falou-se na criação de cada um e o que cada um faz de si, as imagens trabalhadas podem significar muitas das vezes a não aceitação daquilo que somos, de como nascemos. Não sei... afinal sou o que sou e nunca me tentei mudar, nem mesmo aquelas partes que gostaria de ter de outra maneira, penso nisso... que não gosto... mas nunca pensei em mudar, sou assim, assim sou eu... dispenso modas e apenas sigo aquilo que gosto, nunca aquilo que se usa... detesto coisas em massa... torna-se demasiado ridículo... penso em clones e no que a ciência não precisa de fazer nestas alturas para se encontrarem inúmeros decalques por aí...
Eram os pulsos que me provocavam estranheza... era neles que pensava durante toda a manhã, tentando perceber... adivinhar... se a delicadeza que lhes percebia deixavam ver umas mãos de mulher...
E depois lembrava-se que nem sabia quem era, lembrava-se das mãos, lembrava-se de ver um peito sem pelos pela abertura da camisa, lembrava-se do sorriso e do olhar, lembrava-se da boca dele, do cabelo. Lembrava-se do que ele dissera sobre ser o que era e de mostrar o que os outros queriam ver. Falou-se na criação de cada um e o que cada um faz de si, as imagens trabalhadas podem significar muitas das vezes a não aceitação daquilo que somos, de como nascemos. Não sei... afinal sou o que sou e nunca me tentei mudar, nem mesmo aquelas partes que gostaria de ter de outra maneira, penso nisso... que não gosto... mas nunca pensei em mudar, sou assim, assim sou eu... dispenso modas e apenas sigo aquilo que gosto, nunca aquilo que se usa... detesto coisas em massa... torna-se demasiado ridículo... penso em clones e no que a ciência não precisa de fazer nestas alturas para se encontrarem inúmeros decalques por aí...
Eram os pulsos que me provocavam estranheza... era neles que pensava durante toda a manhã, tentando perceber... adivinhar... se a delicadeza que lhes percebia deixavam ver umas mãos de mulher...
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